10 de Agosto de 1907: Itala venceu Pequim-Paris
No dia 10 de Agosto de 1907, o Itala 40hp do conde Scipione Borghese chegou a Paris, depois de uma maratona entre Pequim e a capital francesa. Foi um desafio transcendente para a época...
Tudo começou no dia 31 de Janeiro de 1907, quando surgiu um anúncio onde se podia ler: "Há alguém interessado em ir este Verão de Paris a Pequim em automóvel?".
Na data do embarque para a China, apenas compareceram cinco concorrentes. Entre eles, destacava-se o conde Scipione Borghese, com o seu Itala 40hp, para além de Charles Godard com um Spyker 15hp, dois De Dion Bouton conduzidos por Collignon e Cormier, e um triciclo Contal 6hp de Auguste Pons.
A partida em Pequim teve lugar na segunda-feira, dia 10 de Junho de 1907, e os concorrentes tinham pela frente cerca de 15.000 quilómetros de um percurso onde poucas ou nenhumas estradas existiam, as referências eram escassas e a orientação difícil.
Hoje, atravessar a Rússia, cruzar a Mongólia e seguir pela China é uma aventura fácil devido a melhores ou piores estradas. Mas em 1907, ir da China para a Mongólia obrigou, em muitos casos, a reconstruir pontes ou fabricá-las com o auxílio de cordas e canas de bambu.
A corrida começou
Depois da travessia do deserto, pode dizer-se que começou realmente a corrida. O conde Scipione Borghese decidiu circundar o lago Baikal no caminho para Irkutsk, em vez de utilizar o barco que estava previsto pela organização, só que o percurso escolhido pelo italiano era praticamente desconhecido. No dia 28 de Junho, o Itala deixou o porto de Missowaya, mas a estrada que Borghese esperava encontrar não existia. O caminho que lhe tinha sido referenciado ou desaparecera ou estava bloqueado por árvores caídas, e as pontes existentes ofereciam pouca resistência, algumas das quais caíram após a passagem do Itala. Numa delas, a queda quase fez terminar a corrida do italiano que, para prosseguir, utilizou as construções do Transiberiano. Com duas rodas nas chulipas e duas na barreira lateral, continuou o seu caminho para Irkutsk, não sem antes ter perdido algum tempo para conseguir autorização do governo da Sibéria para utilizar esta via, o que mostra que já há 99 anos a burocracia era uma norma vigente na Rússia.
Enquanto isto, o conde Scipione Borghese tirava partido da superior potência do Itala e do excelente trabalho de Ettore Guizzardi, o mecânico que o acompanhava e que conseguiu resolver todos os problemas técnicos que surgiram ao longo do percurso. O italiano chegou a Moscovo no dia 27 de Julho. A sua vantagem era tão grande que lhe permitiu comparecer em todas as recepções e jantares dados em sua honra. Depois deste fantástico acolhimento, o conde tomou a decisão de fazer um longo desvio à rota inicial da corrida para se deslocar a São Petersburgo, onde na época residia a corte imperial. Foram mais recepções e mais aclamações, antes de o calendário o chamar de novo à estrada para a viagem final até Paris.
O conde Scipione Borghese chegou à capital francesa 62 dias depois de ter partido de Pequim. Era um dia cinzento e chuvoso, mas isso não afastou a multidão de acorrer aos "boulevards" para vitoriar a passagem do Itala. Em alguns locais, ouviu-se a música de "Aida", numa altura em que os adversários do italiano ainda estavam na Rússia.
O pelotão dos perseguidores de Borghese chegou a Paris no dia 31 de Agosto de 1907, cerca de três semanas depois do italiano. A sua recepção voltou a ser festiva, mas o jornal "Le Matin" não tinha conseguido aquele que era o seu grande objectivo – promover a indústria automóvel francesa –, embora tivesse conseguido afirmar o automóvel como o novo meio de transporte do mundo moderno.